Ali estava ele, soberbo,
resistindo todos estes anos ao descaso, velho desfamiliado por decreto
desprovido de utilidade. Logo quando se chega na idade da sabedoria em que
então muito se pode dar aos que o rodeiam. O patrimônio de famílias e de
cidades conta a história de seus filhos e não se renega a quem se pertence, diz
ele entre tijolos, mas ninguém mais o escuta porque o seu som se calou há
muito.
Em suas ruínas com escaras a
céu aberto posso ouvir o som dos ventos perpassando por entre os vãos, cantando
a música da história jogando ao rio as partituras, voltando a se enfunar na
escangalhada fachada deixando as vigas de concreto e ferro entrincheirados na
sustentação ainda firmes, atentas àquele som. Outrora o barulho advinha das
tarefas, do vigor da fábrica em pleno funcionamento, dando vida e sustento as
muitas famílias do entorno.
Na memória de alguns a
lembrança do som rasgando a cidade anunciando pela corneta do boiadeiro o
tropel ensandecido e barulhento que levava até as janelas da escola as crianças
que se deliciavam com a imagem do faroeste ao vivo. E delas vinha a expressão:
lá se vão pro campo dos “rêna”!!!!!
Neste dia frio e sombrio algo
aconteceu e o abraço veio na medida certa, como uma onda de sangue novo nas
veias, como um bafão de esperança, como a luz do lembrar. O imponente prédio
largou a pensar que a morte deve ser assim, uma quenturinha na carcaça e se vai
para sempre.
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