sexta-feira, 30 de maio de 2025

O som dos ventos

 


Ali estava ele, soberbo, resistindo todos estes anos ao descaso, velho desfamiliado por decreto desprovido de utilidade. Logo quando se chega na idade da sabedoria em que então muito se pode dar aos que o rodeiam. O patrimônio de famílias e de cidades conta a história de seus filhos e não se renega a quem se pertence, diz ele entre tijolos, mas ninguém mais o escuta porque o seu som se calou há muito.

Em suas ruínas com escaras a céu aberto posso ouvir o som dos ventos perpassando por entre os vãos, cantando a música da história jogando ao rio as partituras, voltando a se enfunar na escangalhada fachada deixando as vigas de concreto e ferro entrincheirados na sustentação ainda firmes, atentas àquele som. Outrora o barulho advinha das tarefas, do vigor da fábrica em pleno funcionamento, dando vida e sustento as muitas famílias do entorno.

Na memória de alguns a lembrança do som rasgando a cidade anunciando pela corneta do boiadeiro o tropel ensandecido e barulhento que levava até as janelas da escola as crianças que se deliciavam com a imagem do faroeste ao vivo. E delas vinha a expressão: lá se vão pro campo dos “rêna”!!!!!

Neste dia frio e sombrio algo aconteceu e o abraço veio na medida certa, como uma onda de sangue novo nas veias, como um bafão de esperança, como a luz do lembrar. O imponente prédio largou a pensar que a morte deve ser assim, uma quenturinha na carcaça e se vai para sempre.

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