Continuo
aqui, eu e meu amigo Rio, que dia destes andou se abusando nas subidas da
barranca por conta da chuva excessiva. Fiquei de olho porque afinal temos um
trato: ou morremos os dois afundados na lama ou resistimos os dois. Até agora
está dando certo. Ficamos lado a lado.
Ando morto de frio com estas muradas destituídas de
tijolos e também estou ficando velho e não tão resistente como
antigamente, e, talvez, nem tão heroico. A quentura sempre vem
das lembranças e do eco do passado perpassando pelas ruínas do Prédio e
também dos moradores que ainda vem até aqui alongar seu olhar à mim, conversar
e me atualizar dos desmandos em relação a este espaço vilipendiado por tantos e
tantos anos. Recolho também, carinhosamente, todas as lágrimas e tristezas que
são derramadas nestas margens, local propício para sonhar, evadir-se do dia a
dia e rezar para um mundo melhor para todos.
Me
sinto firme ainda, porque eu vejo o sol se esgueirando em minhas beiradas,
todos os dias, e seguidamente, me contam, aqui na beira, que algumas
pessoas escrevem, outras denunciam e outras ainda me admiram, com receio de
selar meu destino.
Mas, seria bom lembrar que meu destino foi selado
há muito tempo atrás porque construí famílias, consertei meu percurso diversas
e de variadas formas, segui em frente o quanto pude.
No
horizonte, a primavera se aproxima para quem sabe, espalhar o pólen das flores
na minha carcaça onde irão florescer pequenas flores do campo que vão reforçar
minha autoestima até a solução ser revelada, não como um incômodo da margem,
mas como um patrimônio a ser preservado, de pé ou no chão. Enquanto existir
quem se importe fico vivo
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