sexta-feira, 30 de maio de 2025

Enquanto existir quem se importe fico vivo

 

 


Continuo aqui, eu e meu amigo Rio, que dia destes andou se abusando nas subidas da barranca por conta da chuva excessiva. Fiquei de olho porque afinal temos um trato: ou morremos os dois afundados na lama ou resistimos os dois. Até agora está dando certo. Ficamos lado a lado.

Ando morto de frio com estas muradas destituídas de tijolos e também estou ficando velho e não tão resistente como antigamente, e, talvez, nem tão heroico.  A quentura sempre vem das lembranças e do eco do passado perpassando pelas ruínas do Prédio e também dos moradores que ainda vem até aqui alongar seu olhar à mim, conversar e me atualizar dos desmandos em relação a este espaço vilipendiado por tantos e tantos anos. Recolho também, carinhosamente, todas as lágrimas e tristezas que são derramadas nestas margens, local propício para sonhar, evadir-se do dia a dia e rezar para um mundo melhor para todos.

Me sinto firme ainda, porque eu vejo o sol se esgueirando em minhas beiradas, todos os dias, e seguidamente, me contam, aqui na beira, que algumas pessoas escrevem, outras denunciam e outras ainda me admiram, com receio de selar meu destino.

Mas, seria bom lembrar que meu destino foi selado há muito tempo atrás porque construí famílias, consertei meu percurso diversas e de variadas formas, segui em frente o quanto pude.

No horizonte, a primavera se aproxima para quem sabe, espalhar o pólen das flores na minha carcaça onde irão florescer pequenas flores do campo que vão reforçar minha autoestima até a solução ser revelada, não como um incômodo da margem, mas como um patrimônio a ser preservado, de pé ou no chão. Enquanto existir quem se importe fico vivo

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