Araci Leite Renner
Minhas avós tinham convivência bem próxima comigo, meus irmãos e meus primos o que deixava a vida movimentada porque em sendo as duas a conviver, as semelhanças e diferenças se misturavam sem nem a gente perceber. Na verdade o amor e o respeito por elas se adiantava em tudo o que a gente quisesse ousar fazer ou dizer. As casas eram distantes e por isso mesmo sempre uma aventura deliciosa se lançar à visita daquela que ficava mais longe.
Hedwiges Ruschel
A minha vó materna era calada e suave, simples em tudo que lhe dizia respeito, sua casa, para mim, tinha um ar de história a ser contada, de segredos não revelados, de móveis de ancestrais, quiçá. Ao chegar lá, quase sempre sozinha a encontrava de enxada na mão rescendendo a tanino revolvendo seu rustico jardim e meu sentido era de curiosidade para me aventurar por um porão que rescendia a umidade e dava calafrios, uma taquareira que me assombrava pela possibilidade de ali existirem cobras. Lembro que eu amava andar por ali, pé ante pé com o coração na boca de medo, um medo infantil delicioso, pois havia um misto de verdade e de ilusão. A proposito da comida, que criança sempre tem de se deparar, principalmente por seus avós, foi ali, criança pequena que conheci o “à la minuta” devidamente embalado pelas ondas de um radio ligado na Rádio Farroupilha.
Amo pensar que eu tenho delas as
duas partes dentro de mim. Estão separadas e aparecem nitidamente no meu dia a
dia, seja na maneira de se comportar, de comer ou da arrumação da casa, tendo o
privilégio de colocar ao meu redor objetos que pertenceram às duas.
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