terça-feira, 27 de maio de 2025

Assim chega a Menina - Neste ponto se inicia a narrativa em fábula

 

Neste ponto se inicia a narrativa que envolve os três personagens deste Blog: “A Menina, o Prédio e o Rio” narrado de maneira lúdica e emocionada através de uma fábula. Vera Lucia criou os personagens que interagem contando a história da fábrica, símbolo de progresso da cidade  Montenegro/RS.

Apesar do dia lindo com um sol bem quentinho iluminando o Rio, e a mim, Prédio, estou sentindo um frio danado que perpassa pelas colunas de cimento, se aloja em todos os buracos que posso entrever daqui e, me parece, vem adernar bem ao meu lado. Intrigado, prestou atenção neste movimento gelado e dou uma pernada até o último andar ficando de frente ao que era o antigo Campo do Renner e a Chácara do Irineu. Assim estou postado, olhando ao longe, quando de mim se aproxima uma menina bem pequena, loira, de olhos azuis que pega na minha mão e diz: eu também hoje estou gelada apesar do sol e do calor.

Ficamos juntos por uns instantes e a primeira a falar foi ela que, tirando do peito um longo suspiro me segredou bem baixinho que estava triste porque havia um clima de muita frieza e distanciamento que a rondava e ela não sabia direito como enfrentar a situação, uma vez que envolvida estava e também, de certa forma perdida. Disse-me ainda que estiva difícil de lidar com o imprevisível, uma vez que ela, apesar de pequena, gostava de andar na vida com certa combinação. Continuou acelerada na fala infantil com situação de adulta e, agora, baixando mais a guarda confidenciou que sente um mal estar quando relegada. A menina pequena, tão sombria em seu raciocínio de gente grande me fez lembrar que não é somente ela que passa maus bocados.

Pensei que era chegada a hora de abrir o meu coração para aquela pequena estranha que tão delicadamente veio postar aos meus pés seus sofrimentos imaginando que eles são somente dela. Joguei meu mau humor para o lado e decidi desabafar com a menina meus dissabores, assim teríamos um pacto de força e, mais tarde, sentaríamos na beira do Rio nos encharcando com sua água poluída por pura diversão. Quem se importa.

Ela continuava apertando firme a minha mão e me olhava com muita tristeza, quase pedindo socorro. A ajuda veio quando eu lhe disse que também eu sofro com a minha situação que, ao contrário da dela - que deverá ser passageira - se arrasta por anos. Avisei que a estória do Prédio é pesada e perguntei se ela aguentaria me ouvir, e ela respondeu que sim, que eu continuasse. Fiquei um pouco inseguro por conta da pouca idade, mas havia algo nela que me fazia confiar.

Então contei da minha situação, de estar ali abandonado a tantos e tantos anos sofrendo o roubo de algumas partes do meu corpo, um edifício secular e imponente, que pelas mãos ladinas me transformaram em ruínas. Agora, todos os movimentos em relação à recuperação são apenas iniciativas de autopromoção, politicagem e barganha de poder.

Exausto da lembrança, perdi o fôlego e olhei para a menina que sem dizer uma palavra e sem soltar a minha mão me levou para o outro lado. Deparamo-nos com o Rio, que furioso me fuzilava em ondas por estar preocupado com o meu sumiço. Ela cochichou ao meu ouvido: não te preocupa, agora somos três e a companhia é tudo quando podemos contar com ela.

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