Ando animadão, mesmo com o frio e a chuva que me fustigam, mas podem acreditar, não me castiga mais que o descaso, mas este, também vou deixar de lado, agora que minha autoestima está mais fortalecida. A companhia da barranca e do meu Amigo Rio, que anda engordando as margens com tanta água, também favorece o meu bom humor e a nossa conversa diária a respeito da vida e de seus imprevistos nos une e nos dá força. Eu, para não cair antes da hora e o outro que não pereça com suas águas envenenadas pelo progresso.
O esqueleto colocado à mostra
também não me envergonha mais, porque
em dias de hoje, ser magrão, quase translúcido, é moderno. É só ver os atletas
de final de semana resfolegando na Beira do Rio em busca da magreza. Eu já
estou em forma sem sair do lugar. Anos atrás fizeram uma bela
lipoaspiração que levou a minha massa muscular feita de tijolos e o cimento,
minha gordura nas dobrinhas. Sem falar na lobotomia, é claro, que deixou
sequelas mais profundas, como a desativação da fábrica e assim fiquei
morto-vivo.
Em consequência disso, hoje, eu
sinto como se o tempo houvesse parado e eu não morro de inanição porque tenho
amor, gente e palavras ao meu redor, mesmo estando tão velho. Idosos e crianças
vem me acenar quase todos os dias e a memória de quem fui está sendo passada de
pai para filho assim como velhas fotos já amareladas são trocadas de caixa
permanecendo a história. Além de todo esse elo com a cidade existe a teia
bordada pelas letras que se sucedem uma à outra, cerimoniosamente,
me elevando à vida eterna.
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