sexta-feira, 30 de maio de 2025

O Rio rasga a barranca

 


A estrutura espetacular sempre foi determinante para todos e sempre os assuntos na cidade faziam tal figuração na mente do povo, que até hoje tem poder de emoção e de engajamento onde as lembranças seguem seu ritual nostálgico, aguçando a história, ameaçando dar um sentido muito maior ao todo.

A maior fuzarca era aquele lugar ao receber a multidão branca caminhando pela rua Ramiro Barcelos. Todo dia o lufa-lufa se espraiava para além dos domínios da fábrica marcando com vivacidade as cercanias onde também uma vida de bons frutos se acomodava, pródiga na criação de animais, plantação de frutas, verduras, alimentando os dali  e os familiares.  Tudo com simplicidade de quem pensa que não tem como escapar daquela boa sorte.

E não somente o trabalho a fábrica provia aos seus. As reuniões esportivas faziam parte do pedaço de terra ao lado, cuidado com amor e dedicação de todos, revelando atletas, fazendo com que a arte de jogar bola fosse encarada como uma forma de unir mulheres, crianças, amigos e muito mais, em torno da alegria. Sol a pino, as ponteiras da chuteira na canela do adversário, o soco na pleura e o campo fervilhava de simpatia, esquentando a torcida e atochando o momento para sempre na lembrança de cada um, perpassando sem dúvida, aos seus.

O rio, caudaloso, se aconchegava à área ofertando seu leito com generosidade às chatas abarrotadas que afundavam até a beirada,  mas ele as conduzia feliz, absorto na tarefa e encantado pelo marulhar de suas ondas. De humores, o rio enciumado, volta e meia inundava toda a área, afundando na lama toda a pujança, com sede daquela alegria e movimento. Ao ouvir o som da picareta da lei, indignado, rasgou sua barranca e recolheu a fábrica para dentro de si.

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