O escangalhado está rindo sozinho na beira do velho companheiro de jornada que desde sempre olha o que lhe passa no leito, pois suas águas não servem para relembrar o passado nem prever o futuro.
O
monumental Prédio se vê agora um pouco aliviado e agradecido porque o vilarejo
o ajudou mais uma vez na crise do balança mas não cai, e com a chegada do clima
mais quente, não sente mais o bafo gelado da morte iminente, correndo todo o
dia o risco de virar um monte de entulho desarticulado no chão. Também havia a
confabulação de se tornarem um só, Ele e o Rio, uma ruína atracada no cais para
sempre. Por ora, fica para trás a travessura.
O prédio se sente um pouco enfraquecido porque quem
sustenta suas entranhas são os sentimentos e a solidariedade em relação a
história da cidade. Este conjunto reergueu sua dignidade, acordou os seus fãs e
os filhos dos mesmos para sua importância. Está claro que ele não serve mais,
mas também fica claro que já foi feito de carne e osso e que permitiu estudo,
subsistência e amparo a quem a ele dedicou a vida ou parte dela, para sua
manutenção no mercado. Ele se regozija ao ver em sua volta os novíssimos e inusitados
andaimes, construídos com o respeito ao passado e ao patrimônio histórico. A
vida de um prédio perpetuada na memória e no coração do povoado. A palavra
dissonante, uma arma de amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário