O Prédio e a Menina estavam sentados no último andar do esqueleto arruinado, bem ao lado da chaminé que parecia querer desabar a qualquer momento, talvez porque houvesse várias fissuras no seu corpo. Os dois abanavam a ela e pediam que esperasse um pouco, pois já já tudo iria se acomodar no chão, todos os seus pedaços iriam se unir e se amontoar em algum lugar. A agonia agora tinha data marcada para findar.
O Prédio se sentia preparado e a Menina também, até limpara seu vestido, penteara seus cabelos e colocara seus sapatinhos, uma vez que os dois ficaram sabendo que iriam ao chão em breve. O Rio, bem, O Rio hoje encanzinou de transbordar porque as chuvas vieram lhe dar esta oportunidade - talvez a última - de alagar a beirada em que O Prédio se encontra e, levemente irônico, como é peculiar ao barrento, joga com um bocado de força suas ondas junto à barranca que tem marca de desabo, parecendo querer voltar com aquela ameaça de tragar tudo para dentro de si e ridicularizar a intenção dos organizadores.
Talvez seja um pouco de desespero do Rio ao perceber que vai perder seu amigo e passar a vida daqui para frente com um curso monótono porque não haverá a interlocução desvairada entre os dois e, mais ainda, a companhia da Menina que vez ou outra vinha contar e inventar histórias para amenizar a situação. Então, hoje, por estar fora do seu curso ele não participou da animada conversa dos dois quase pendurados.
Desabar tijolo por tijolo ou virar pó, tanto faz ao Prédio, o importante agora já não é mais fazer história e sim se tornar importante na lembrança de todos e então os dois começaram a fazer planos para o fim tão aguardado.
A Menina tomou à dianteira e disse que assim que sumisse do mapa a estrutura do Prédio, ela estaria também liberta de ali ficar dia a dia acompanhando e cuidando da estrutura para que ela mesma não viesse abaixo por vontade própria. Não ficaria nem bem isso acontecer, diz a Menina. Agora a lembrança se tornará real e ao invés da aparência física recortada no céu todos terão em seus corações imagens e história de um passado que trouxe á cidade tanto apoio.
O Prédio confidencia que
certamente não sentirá nenhuma dor ao ser destruído, porque isto já foi feito
há muito tempo. Então, A Menina teve a ideia iluminada de já começar a retirar
tijolo por tijolo de cima para baixo o que manteria os dois ocupados, felizes e
assertivos. Nada como a ilusão para se afastar momentaneamente desde final
hipotético.
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